A polícia e equipes da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) negociam acordo para evitar novos confrontos durante o funeral do guarani-kaiowá Neri Ramos da Silva, 23, morto com tiro na cabeça disparado por policiais militares na manhã de quarta-feira (18) no município de Antônio João, na fronteira com o Paraguai.
O corpo foi levado no mesmo dia da morte para o IML (Instituto Médico Legal) em Ponta Porã, passou por exames de rotina, mas na manhã desta sexta-feira (20) foi encaminhado para o Imol em Dourados, para ser examinado por peritos da Polícia Federal vindos de Brasília. O veículo da funerária trazendo o corpo chegou por volta de 10h20 em Dourados.
Após esses exames, o corpo deve ser liberado aos familiares, para o velório e sepultamento. O Campo Grande News apurou que, a exemplo de outros confrontos com mortes ocorridos nos últimos tempos em Mato Grosso do Sul, a comunidade já decidiu que vai sepultar Neri Ramos da Silva no Território Nhanderu Marangatu.
Não se sabe ainda, no entanto, se haverá tentativa de fazer o enterro nos limites da Fazenda Barra, onde ocorreu o confronto fatal. Liminar da Justiça Federal termina a presença da Polícia Militar e da Força Nacional para impedir a ocupação da propriedade. A decisão é contestada por entidades de defesa dos povos tradicionais.
De acordo com policiais que permanecem na área, a tensão predomina na área, mas sem ocorrência de novos confrontos. Na quinta-feira (19), os indígenas teriam derrubado árvores para bloquear o acesso alternativo ao local. Houve negociação envolvendo comando local da PM e servidores da Funai e os caminhos foram liberados.
A Polícia Federal assumiu as investigações sobre a morte do guarani-kaiowá, a terceira ligada diretamente à disputa pelo território.
A Funai acusou a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul de executar Neri Ramos da Silva. Já Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública afirma que a vítima estava no grupo que teria investido contra os policiais, inclusive com armas de fogo.
O Território Nhanderu Marangatu, de 9,3 mil hectares, foi demarcado em 2022, no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso. Em 2005, no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a demarcação foi homologada, mas os indígenas nunca tomaram posse das terras, pois, no mesmo ano, decisão provisória do STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a demarcação.
A maior parte das terras reivindicadas pelos indígenas pertence à família do ex-prefeito de Antônio João, Dácio Queiroz Silva e da assessora especial da Casa Civil no governo de Eduardo Riedel, a advogada Luana Ruiz.
Fonte; Campo Grande News
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