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“Temos influência do sertanejo à música pop”, diz Andreas Kisser

Aos 55 anos, Andreas Kisser cogita a possibilidade de incluir uma balada, que seria a primeira do grupo, entre as últimas gravações do Sepultura, guitarrista ingressou na banda em 1987 - Divulgação / Bruno Zuppone

O que deu certo e o que deu errado até agora na turnê “Celebrating Life Through Death” após cinco meses de estrada?

Deu tudo certo. O que deu errado, a gente consertou (risos). É um processo. A turnê tem sido um sucesso de público, estamos curtindo demais, celebrando com os amigos. Muita gente comparecendo que faz um tempo que a gente não via, os fãs emocionados. Estamos fazendo um show que realmente engloba toda a carreira do Sepultura. Não tem certo ou errado, é um processo, né?

As coisas vão se ajeitando, a gente vai melhorando aqui e ali e os shows vão ficando cada vez melhores. E não só tocando no Brasil, mas fomos pra América Latina, acabamos de voltar da Coreia do Sul, agora estamos indo pros Estados Unidos e Canadá, depois Europa. E tem sido maravilhoso, tem sido sensacional.

O que mais te impressiona no estilo do baterista Greyson Nekrutman e o que muda na pegada do som com a entrada dele? Agora, a banda está metade brasileira e metade norte-americana.

O Greyson (que ingressou na banda em fevereiro) é um cara jovem, mas que também tem muita experiência. Já tá tocando há muito tempo, tem uma escola que vem do jazz e também obviamente conhece o metal. Estava tocando com o Suicidal Tendencies, que é uma banda pesada, e se adaptou ao Sepultura fantasticamente. É um cara muito interessado, está sempre estudando as músicas do repertório, novas possibilidades que ele pode trazer de músicas que ele queira tocar.

A gente se deu muito bem, uma química tranquila. Ele é super profissional, super dedicado e está trazendo novos elementos pra música do Sepultura, como todo baterista ou todo músico que entrou na banda. Todo músico que entrou levou a banda pra um patamar diferente, pra uma experiência diferente; e não está sendo diferente com Greyson agora, a mesma coisa com ele.

Em relação a norte-americano e brasileiro, acho que isso no final fica meio irrelevante. O (vocalista norte-americano) Derrick (Green, que está na banda desde 1998) já morou em tanto lugar, já morou aqui no Brasil há muito tempo. O Greyson também tá conhecendo o Brasil de uma forma que ele, é a primeira vez vindo pra cá dessa forma, ficando aqui. É um cara que gosta de dar um rolê, conhecer os lugares e aos poucos também está aprendendo a língua.

Enfim, é uma banda internacional. A gente viajou já pra mais de 80 países e, no fim, o que vale é a música e não tanto essa coisa nacionalista. Uma coisa mais de influências de ritmos e melodias de várias culturas e várias tendências. Obviamente a gente tem a influência da chamada música brasileira, desde sertanejo até a percussão e ritmos de samba e música pop, enfim. Tudo influencia um pouco.

Pode adiantar algo do EP do Sepultura que você anunciou em julho com previsão para o final do ano? E quanto a essa balada que estará no repertório?

Esse EP não necessariamente vai sair no final do ano. Estamos trabalhando ele e a gente tá em turnê também. Já começamos a escrever algumas coisas e é um EP que vai sair junto com o disco ao vivo. É um pacotão que vai sair em fases diferentes, mas no final é tudo parte de um processo de celebração desses 40 anos, fazendo esse disco ao vivo, gravado pelo mundo. Vão ser 40 músicas em 40 cidades diferentes. A gente já está gravando todos os shows desde que o Greyson entrou, e até antes, e está montando esse set. Esse EP vai ter quatro músicas.

O lance da balada é uma coisa que a gente, puta, começou como uma piada interna e tentamos fazer algumas vezes, assim, uma coisa que não deu muito certo até hoje (risos). Mas vamos fazer, vamos tentar de novo, pensar algumas possibilidades. É uma despedida e ter essa coisa de realizar um desejo, um sonho, vamos dizer assim, de  escrever uma balada. Talvez a gente conte com parceiros de fora da banda para juntar e unir forças. Vamo ver.

E sobre o projeto de reggae com o Derrick. Já pode revelar o nome? E por que a escolha pelo estilo de origem jamaicana?

Mano, esse lance do reggae é uma das possibilidades entre as mil que existem pro futuro (risos). E também uma coisa minha e do Derrick de zoeira. A gente curte muito ouvir reggae. Pô, eu sempre gostei muito de Bob Marley. O Sepultura até gravou uma versão da música “War” (clássico do repertório de Marley, lançado em 1976) no “Roots” (1976) como bônus e o (vocalista) Max (Cavalera, membro fundador da banda, que deixou o Sepultura em 1996) também curte muito reggae.

A gente sempre ouviu reggae, sempre curti muito esse estilo de música e o Derrick, quando entrou na banda, também mostrou que gostava disso. Aprendi muito com bandas novas que ele me mostrou de reggae e a gente sempre teve essa vontade também de fazer algo. Quem sabe? Pode rolar. Não é nada garantido. A gente tem um nome mas isso não é uma coisa a ser revelada agora. Vamos ser. Se a gente tiver algum tempo para se dedicar e fazer algo que não seja alguma coisa caricata.

Não somos jamaicanos, mas a influência do reggae está em muitas bandas, como o Police, Paralamas, Skank, Bad Brains, que era uma banda de hardcore que misturava o reggae com música pesada. Talvez a gente vá mais por aí. Mas não sei. Vamo ver. Não tem nada garantido e é uma possibilidade, quem sabe.

Criada em Belo Horizonte (MG), em 1983, a banda encerra a carreira com a turnê Criada em Belo Horizonte (MG), em 1983, a banda encerra a carreira com a turnê “Celebrating Life Through Death”, que passa amanhã pela capital; as bandas Haze, Tonelada e Native Blood fazem os shows de abertura

O heavy metal mudou pra caramba desde que você e a banda começaram nos anos oitenta. Foi de uma coisa mais sombria, marcada por um jeitão severo, digamos “do mal”, para uma expressão mais colorida e de diálogo com outras vertentes, dentro e fora do rock. Ao mesmo tempo, o cenário pop abraçou o metal.

O heavy metal engloba muita influência. É o estilo mais popular do mundo. Como eu disse, o Sepultura visitou 80 países, independentemente da religião ou da política. O heavy metal sempre abre portas. E continua assim. Você vê o Metallica, a maior banda do mundo praticamente, tocando em estádios pelo mundo representando o metal de uma forma fantástica e inspirando, levando o Pantera junto e outras bandas.

A década de oitenta era muito alegre também. O Van Halen tem essa vertente pesada do heavy metal, mas com uma outra pegada. De festa, party, rock and roll, sex, drugs and rock and roll. Uma coisa totalmente diferente do Black Sabbath. Inclusive fizeram um tour juntos em (19)78 na primeira turnê. O heavy metal é muito mais abrangente do que uma generalização assim.

O que eventualmente muda na etapa internacional da turnê de despedida?

Não muda nada. É uma celebração. Não tem uma coisa especial que a gente faça pro Brasil. Como eu disse, acabamos de vir da Coreia do Sul. Fizemos lá um festival e um show nosso com esse mesmo repertório. E o aspecto visual também do vídeo etc. O show que a gente está apresentando pelo mundo é o que o Brasil tá vendo também. Valeu.

Fonte: Campo Grande News

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